segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

“Para o triunfo do mal, basta que os bons façam nada”.

Essa é uma frase que foi atribuída a Edmund Burk, que sempre gosto de citar. Imagino que se um dia fizer uma tatuagem, essa frase deverá estar nela.

E por que escrevê-la agora?
Bem, é que hoje pela manhã assisti a um programa de televisão, e pensei que não poderia me calar, ou não deveria. Já que vi um pai de família chorando porque não sabia dizer ao seu filho, de sete anos, porque as pessoas imitavam macacos, enquanto ele tentava trabalhar.

Estou falando do jogador de futebol “Tinga”. Que sofreu uma terrível, porém rotineira, e repudiável, demonstração de preconceito. De falta de respeito, de civilidade, de caráter. Mais uma verdadeira demonstração de atraso, e da maldade que o ser humano é capaz de produzir diariamente.
Isso aconteceu durante um jogo pela Copa Libertadores da América, contra um time peruano. Mas acontece diariamente, com muitas outras pessoas, por motivos tão vergonhosos como este.
Senti uma forte necessidade de me mostrar solidário, e expressar minha indignação em relação a isso.

E por quê? Porque ele é jogador de futebol? Não! De forma alguma. Eu recentemente nem tenho acompanhado o futebol, pois tenho vergonha do que isto se transformou. A fábrica de sonhos de jovens sem estudo, que viram a “esperança” de suas famílias em ganhar dinheiro, e depois saem na mídia em geral ostentando carros, relógios, e mulheres que também se submetem a esse teatro de fantoches, porque também elas, se tornaram “a esperança de suas famílias”, ou de si mesmas. Não importa. Pois é horrível e vergonhoso seja como for.

Então não é por isso, não é por ser um jogador de futebol, o negócio no qual, depois da “máquina pública”, do Estado brasileiro, imagino que é onde deve haver a maior concentração de bandidos desse país. Não preciso citar exemplos, estão nos jornais todos os dias, de ambos os casos.

Será porque ele é negro? Também não! Pois fosse ele um militante que inflamasse a opinião pública por um levante, aproveitando-se dos holofotes para promover mais segregação. Também ele não teria minha solidariedade. Estou cansado e aflito por tantos militantes, que apenas ampliam as distâncias com seus discursos que já foram importantes, mas que já permeiam, por exagero, em minha opinião, a promoção disfarçada de mais segregação.

Então por quê? Depois de tantas demonstrações de preconceitos diários que assisto, somente hoje resolvi me manifestar? Pois bem! Foi porque vi um homem chorando porque não sabia o que dizer aos filhos, que sentiram vergonha de ir à escola, depois de ver o que aconteceu com o pai. Porque vi um homem que não saí na mídia, pelo menos até onde puder saber, dando demonstrações de maus exemplos aos jovens. Como outros jogadores, que aparecem usando drogas, álcool e ou envolvidos com o crime organizado. E que ainda são exaltados por essa fabrica de “aberrações”.

Não conheço muito esse jogador, e não sei a sua história, mas por ver pouco seu nome na mídia, já é para mim, uma boa demonstração de que merece respeito. Pois não me lembrei de nenhum fato escandaloso ou vergonhoso associado a seu nome. Como infelizmente vemos todos os dias, dos “astros da bola”.
Hoje pela manhã, vi um homem, sem discursos, sem bandeiras, apenas querendo ser reconhecido pelo que é. Mais um ser humano. E por isso ele ganhou minha simpatia, minha solidariedade, meu respeito. E meu desejo de sucesso.

Tinga, se te interpretei bem, peço que mantenha a cabeça erguida e siga em frente. Continue dando boa educação aos seus filhos, pois esse é o único caminho que nos levará onde queremos chegar.
Dedico essas palavras a todos que já sofreram alguma forma de preconceito, e que sem mantiveram firmes no caminho da justiça, da liberdade, e do bem comum.

Não quero ser militante de nada, nem tão pouco incitar mais segregação. Quero, apesar de cético, ao menos imaginar que poderemos ser no futuro uma sociedade da qual não precisaremos mais nos envergonhar. Na qual as pessoas serão respeitadas e terão seus direitos respeitados.

Sonhando um pouco mais alto, que seja uma sociedade na qual os famosos serão os médicos que passam trinta horas em plantões de prontos socorros. Não as pessoas que tudo que fizeram foi posar para uma revista ou outra. Que sejam os professores, os mais famosos e também os mais bem remunerados. Assim, quem sabe, poderemos ser uma sociedade da qual poderemos até nos orgulharmos. E sem dúvida, não haverão mais demonstrações como esta.

Por: Francisco Azanha.

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